Conheça 10 bandeiras que o Brasil não teve
Ontem as redes estavam animadas com a proposta do influencer Felipe Neto de “ressignificar” a bandeira do Brasil, tomando-a de volta da extrema direita. Em meio a isso, surgiu um burburinho de gente que acredita que nossa pobre bandeira é um caso perdido e talvez precise de um redesign.
A atual bandeira do Brasil foi criada meio às pressas, em 4 dias, após a proclamação da República, e aprovada sem votação ou cerimônia, o que incomodou, como veremos, muita gente no começo do novo regime. É uma adaptação da bandeira do Império, na qual as cores representavam simplesmente a Casa de Bragança e a Casa de Habsburgo (de Dom Pedro e Maria Leopoldina), e o losango se estendia até a margem. O círculo celestial não parece, mas representa a velha esfera armilar, o símbolo mais antigo da nação. Era um objeto físico, que representa não a Terra, mas os astros na “esfera” do céu, dispostos em arcos móveis. Servia para guiar marinheiros no tempo das Grandes Navegações e daí se tornou o símbolo da maior posse colonial portuguesa.
Sem discutir o mérito da bandeira ou de seu uso político atual, não deixa de ser uma oportunidade para lembrar que poderíamos, de fato, ter uma bandeira muito diferente – e com significados diferentes. Veja a seguir.
1. BANDEIRA DO REINO DO BRASIL, 1816
Em 16 de dezembro de 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves. Nessa condição, o Reino do Brasil era uma entidade política própria, não mais mera colônia. Assim, precisava de uma bandeira própria. Numa Carta de Lei de 13 de maio de 1816, Dom João 6º descreveu a bandeira do Reino do Brasil como uma esfera armilar dourada (já usada antes como símbolo da colônia) num fundo azul. A bandeira, aparentemente, nunca foi feita.
2. BANDEIRA DE DEBRET, 1820
Em 1820, Dom João 6º pediu ao pintor francês Jean-Baptiste Debret, em missão para retratar o Brasil, que criasse uma nova bandeira brasileira, também contendo a esfera armilar. O que ele queria – talvez até prevendo a independência – nunca ficou claro, mas, com alterações no escudo, a bandeira de Debret seria a base da bandeira do Império e, por herança, da atual.
3. BANDEIRA DE JÚLIO RIBEIRO, 1888
Antes do fim do Império, o militante republicano Paulista fez uma bandeira inspirada na dos Estados Unidos, mas com cores diferentes. O branco, preto e vermelho representam as raças do Brasil e as estrelas são a constelação do Cruzeiro do Sul. Não aceita, numa versão com 13 faixas no lugar das 15 de Júlio, ela se tornaria símbolo do lado paulista na Revolução Constitucionalista (ou Guerra Civil?) de 1932, e quase certamente seria a nova bandeira do Brasil se vencessem. Como memória do conflito, se tornaria a bandeira de São Paulo em 1946.
4. BANDEIRA DO CLUBE REPUBLICANO, 1889
Outra cópia da bandeira americana foi criada pelo republicano carioca Júlio de Trovão e, numa versão com uma cor diferente (azul claro) no escudo, hasteada nos primeiros quatro dias da República.
5. BANDEIRA DE SILVA JARDIM, 1890
O jornalista republicano mineiro Antônio de Silva Jardim foi um dos que não gostaram da bandeira oficial da República, parecida demais com a do Império, nem queria copiar a bandeira dos EUA. Seguindo a mesma ideia das três raças do Paulista Júlio Ribeiro, criou uma bandeira republicana – a República é representada pelo barrete frígio em cima do escudo, um símbolo que data de Roma Antiga, representando os escravos libertos, e usado como símbolo republicano na Revolução Francesa. Também traz de volta a velha esfera armilar, com uma âncora, para deixar clara a ligação com navegações.
6. BANDEIRA DO BARÃO DO RIO BRANCO, 1890
O patrono da diplomacia brasileira também apresentou um projeto tricolor que não parecia a bandeira do Império nem a dos EUA, reintroduzindo também a Cruz da Ordem de Cristo, símbolo de Portugal, um sol à moda argentina e uruguaia, e com estrelas representando os Estados.
7. BANDEIRA DE OLIVEIRA VALADÃO, 1892
Com a ascensão do ditadorial Floriano Peixoto, o senador militar Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão propôs militarizar a bandeira, colocando o brasão no meio.
8. BANDEIRA DE EURICO DE GÓIS, 1908
Em seu livro Os Símbolos Nacionais, o advogado baiano criticou a adoção do lema positivista (“o slogan de uma pequena seita”) na bandeira brasileira, dizendo que uma bandeira devia fazer jus à tradição e à história de um povo. Também criticava o erro da configuração das estrelas no céu. Em seu lugar, propôs uma bandeira retomando as proporções da do Império (o losango até o canto), e um brasão lembrando quatro períodos da história do Brasil: a estrela branca é a República, o anel azul é o Império, a esfera armilar é o breve Reino sob Dom João, e a cruz é o Brasil-colônia.
9. BANDEIRA DE EURICO DE GÓIS, 1933
O agora político baiano voltou à carga novamente na Constituinte de 1933, desta vez concedendo aos positivistas da República o direito de figurarem com o círculo do Cruzeiro do Sul.
10. BANDEIRA DE VENCESLAU ESCOBAR, 1908
Outro que não era fã do slogan positivista, o parlamentar gaúcho propôs, no mesmo 1908 em que Góis lançava seu livro, uma solução minimalista: arrancar a faixa. Foi um projeto de lei que ficaria engavetado por 20 anos, até ser reprovado.