75 anos: Mussolini pendurado no posto de gasolina
A foto é brutalmente simples em sua mensagem: o ditador Benito Mussolini, que prometia ressuscitar o império Romano e se tornou um fantoche de um descendente dos bárbaros, terminava sua carreira pendurado pelos pés, como um porco no açougue.
Mussolini, oficialmente primeiro-ministro, governou a Itália entre 31 de outubro de 1922 e 25 de julho de 1943, quando, após a incursão aliada na Itália, foi deposto e preso. Em 23 de setembro de 1943, os nazistas os tiraram da prisão numa operação secreta. Então foi feito líder da República Social Italiana, também chamada República de Saló, por sua capital, uma pequena vila com esse nome na Lombardia, norte do país. Era a parte da Itália ainda controlada pelos nazistas, na qual aquele que havia inspirado Hitler agora era seu capacho.
O corpo na foto de 28 de abril de 1945 estava irreconhecível. Mas isso foi no pós-morte: ele havia sido deixado na Piazalle Loreto, praça próxima à estação central de Milão, e brutalizado pela multidão, que jogou vegetais, pedras, urinou e chutou os corpos dele e de sua amante, Claretta Petacci. Na madrugada do mesmo dia, havia sido executado a tiros de submetralhadora pelo partisan (membro das resistência) comunista Walter Audisio, após um julgamento sumário, ou, por algumas versões, nem isso: o líder partisan Urbano Lazzaro, que não estava presente na cena, mas a investigou posteriormente, afirmava que simplesmente haviam sido mortos quando Petacci tentou roubar uma arma de um partisan.
Seja lá como Mussolini tenha sido despachado, esse foi só o começo de uma longa e mórbida aventura pós-morte. Às 14h do mesmo dia, os americanos tiraram os corpos do posto de gasolina e os levaram para autópsia. Então, um fotógrafo militar capturou outra imagem, em cores, dos corpos de Mussolini e Petacci posando de braços dados. A foto é brutal demais para publicar sem aviso (e a que ilustra a matéria já é meio demais), então vai via link, clique aqui por conta e risco –dá para ver claramente o estrago na face do ditador. Os americanos testaram o casal para sífilis, que acreditavam poder ter causado sua “loucura”, mas deu negativo. O ditador foi enterrado numa cova não marcada num cemitério da cidade.
Em 21 de abril de 1946, domingo de Páscoa, pouco menos de um ano após sua morte, o corpo de Mussolini foi escavado pelo fascista Domenico Leccisi. E começou uma caçada por seu corpo, mudado de lugar em lugar, até ser “capturado”, em agosto do mesmo ano, num mosteiro Certosa di Pavia, perto de Milão. Faltava uma perna. Dois monges foram acusados de conspirar com o fascista.
O cadáver então movido, secretamente, para outro mosteiro, em Cerro Maggiore, e lá permaneceria até 19 de maio de 1957, quando assumiu como primeiro-ministro italiano o democrata cristão Adone Zoli. Ele havia sido partisan na guerra, mas então ascendera com apoio parlamentar da extrema direita –incluindo nada menos que Leccisi, o exumador, agora senador. Como concessão, o corpo foi devolvido para a família e enterrado em 1º de setembro na vila de Predappio, local de seu nascimento. Até hoje, um mausoléu com símbolos fascistas e uma tumba de pedra marcam ostensivamente o local. Todo dia, até centenas de fascistas convergem para fazer “turismo” na tumba, com 28 de abril marcando o auge.