São Valentim: por que, no resto do mundo, hoje é Dia dos Namorados

Talvez você tenha visto num site do exterior, talvez alguma promoção por aqui: hoje, não 12 de junho, é o Dia dos Namorados do resto do mundo. Ou melhor: não é Dia dos Namorados; é dia de São Valentim. Dia celebrado não só nos States, mas em Cuba, Colômbia, Argentina, Portugal e Angola, para ficar em exemplos mais próximos.

São Valentim, enquanto santo, é um caso complicado. São na verdade dois santos em 14 de fevereiro: São Valentino de Roma, morto em 269, e São Valentino de Terni, em 273. Ambos são mártires cristãos da perseguição romana e, apesar de muitas lendas criadas posteriormente, depois da associação da data com namorados, não tem realmente nada que ver. A Igreja Católica tirou suas celebrações do calendário oficial em 1969, deixando-a para congregações locais. A justificativa é que não sabe nada realmente consistente sobre o(s) santo(s), exceto a data de sua morte.

A associação do misterioso santo que são dois surgiu com o (ou ao menos foi registrada pela primeira vez pelo) trovador medieval inglês Geoffrey Chaucer. Seu poema Parlamento das Aves (1382), incluiu os versos: “Pois assim foi no Dia de São Valentim/Quando toda ave ali vai escolher seu par” (capenga tradução minha).

Chaucer queria dizer o Dia de São Valentim marcava uma época romântica do ano, porque é quando as aves cantam e se reproduzem, e relacionou isso a casais humanos, num exemplo do ideal do amor cortês da literatura medieval. Mas isso não tem nada a ver com o santo, mas a época do ano. As explicações baseadas na vida do santo (da qual nada se sabe), ou um antigo feriado romano, são mitos criados depois dessa associação.

São Valentim virou o dia dos namorados nos países anglo-saxônicos, que herdaram a cultura de Chaucer, e só começou a estourar mesmo no século 19, quando surgiu a indústria de cartões de São Valentim, que movem o feriado nos EUA e Inglaterra até hoje. Os outros países pegaram por contágio cultural, como o Halloween – e o Brasil também pegou, mas é uma história curiosa.

O São Valentim foi importado pelo publicitário João Doria (João Agripino da Costa Doria Neto), pai do atual governador de São Paulo, João Doria Jr. Em 1949, ele recebeu uma encomenda da Exposição Clipper, uma loja de roupas no centro de São Paulo, para agitar as vendas na metade do ano, período até então meio morto nas vendas. Foi assim que o publicitário lançou a campanha para criar o São Valentim brasileiro.

Anúncio original do Dia dos Namorados
Anúncio original do Dia dos Namorados, 1949 (Reprodução)

Escolheu 12 de junho, um dia antes do dia de Santo Antônio, tido por casamenteiro, mas não o dia do santo em si, que é uma nada romântica festa junina. Sem cartões, mas presentes em geral. Apesar de a campanha dizer que “no mundo inteiro as criaturas se amam “, estamos sozinhos nessa: 12 de junho só tem a ver com namorados por aqui.