Jânio e lagostas: duas vezes em que Brasil e França quase entraram em guerra
Ontem saiu a notícia: os militares brasileiros têm planos para uma guerra com a França, levando a sério a sugestão do presidente francês Emmanuel Macron de que a Amazônia poderia ser internacionalizada.
É uma deixa para lembrar duas vezes num passado não tão distante em que o Brasil se dispôs a confrontar uma potência nuclear da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ambas em períodos democráticos. Numa delas, inclusive, seria uma guerra de agressão.
A Guerra da Lagosta foi uma disputa comercial pela pesca do crustáceo no Nordeste do Brasil por navios franceses. Em 1961, franceses começaram a pescar lagostas no litoral brasileiro, no que foi visto como uma violação de direitos do Brasil. A coisa evoluiu ao ponto de navios franceses serem capturados e navios militares franceses serem enviados à nossa costa. A quase guerra aconteceu no contexto do acirramento da tensão dos militares com o presidente João Goulart, e terminou só com a ditadura.
A outra guerra que não aconteceu era um plano do excêntrico presidente Jânio Quadros para nada menos que conquistar a Guiana Francesa, também em 1961. A justificativa para a Operação Cabralzinho era evitar o contrabando de um metal quase valor, o manganês. E essa já estava em andamento quando Jânio acabou renunciando.
Como teria sido uma guerra com a França? A única guerra comparável seria a das Malvinas, de 1983, que pôs em oposição dois países formalmente aliados dos EUA (o Reino Unido pela Otan, e a Argentina, pelo Tratado do Rio de Janeiro, de 1947, ainda em vigor). O regime militar argentino acreditava que o Reino Unido simplesmente ignoraria a tomada de uma ilha de população minúscula e sem muito valor estratégico ou comercial. Jânio e os militares brasileiros também apostavam que os franceses não iriam investir num conflito pelo que viam como ninharias. Os militares argentinos erraram feio: a reação foi fulminante e os EUA preferiram ficar do lado do aliado Europeu, sem sequer chegar a precisar se envolver.