Os EUA financiaram Osama bin Laden?

Há quem veja uma uma perversa ironia nos ataques de 11 de setembro de 2001. A de que o mandante teria começado sua carreira sob patrocínio dos próprios EUA. Osama bin Laden teria recebido dinheiro da CIA durante sua participação na Guerra do Afeganistão (1979-1989). E essa é uma que mesmo quem não é adepto de teorias da conspiração costuma repetir como um fato de conhecimento público.

Bin Laden lutou no Afeganistão ao lado dos mujahidins (termo em árabe para “quem faz a Jihad”). Assim se chamavam os militantes islâmicos combatendo os soviéticos, que haviam entrado no país para tentar defender o governo afegão contra sua insurgência. E os mujahidins, definitivamente, receberam dinheiro da CIA, num total de US$ 3 bilhões (cerca de US$ 6 bilhões hoje).

Mas, até onde documentos e testemunhos podem provar, Osama nunca embolsou um tostão do Tio Sam – algo que ele e a CIA sempre afirmaram. O jornalista Peter Bergen, que escreveu sete livros sobre Bin Laden e a Guerra ao Terror, foi um dos muitos que pesquisou e não achou nada. O jornalista Steve Coll ganhou o prêmio Pulitzer por seu livro de 2004, Ghost Wars: The Secret History of the CIA, Afghanistan, and Bin Laden, from the Soviet Invasion (“Guerras-Fantasma: A História Secreta da CIA, Afeganistão e Bin Laden, da Invasão Soviética”). No livro, ele afirma: “Bin Laden se movia pelas operações de inteligência compartimentadas sauditas, fora da vista da CIA. Os arquivos da CIA não contém qualquer registro ou contato entre um oficial da CIA e Bin Laden nos anos 1980”.

Há uma razão para acreditar que Osama não foi parar no borderô da CIA: primeiro, era filho de uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita e levou seu próprio dinheiro para financiar sua luta, parte da torrente de dinheiro saudita que foi parar nas mãos dos mujahidins.

Indiretamente, o terrorista certamente se beneficiou do patrocínio EUA. Dois de seus grandes aliados, os líderes mujahidins Gulbuddin Hekmatyar e Jalaluddin Haqqani, eram amplamente apoiados pela CIA, e continuaram a dar seu suporte a ele. Haqqani facilitou sua fuga do Afeganistão em 2001 – e, com isso, garantiu sua sobrevivência pelos anos que se seguiram.

Mas há um terrorista que atacou os EUA e foi, com certeza, patrocinado pela CIA. Omar Abdel-Rahman, o “sheik cego”, recebeu apoio americano no Afeganistão. Inclusive, a CIA mexeu uns pauzinhos para conseguir seu visto de entrada nos EUA, em 1991, quando outras autoridades desconfiavam que podia ter intenções terroristas. Menos de dois anos depois, em 23 de fevereiro de 1993, ele comandou o ataque com caminhão-bomba ao World Trade Center. O plano era fazer uma torre cair em cima da outra, mas o resultado foram seis mortos e dano local. Era para ser só um de uma série de ataques a Nova York, mas Rahman acabou preso em junho do mesmo ano, e ficaria até sua morte, em 2017. Sua história serviria de inspiração para Osama, digamos, “terminar o trabalho’ em 2001.