É verdade que poloneses atacaram tanques com cavalos na Segunda Guerra?

Não. Mas atacaram alemães com cavalos. Foi um sucesso.

A imagem meio quixotesca, meio ignóbil de poloneses enviando cavaleiros contra tanques, pra bater com suas espadas contra a blindagem, foi uma invenção da propaganda nazista, inspirada em estereótipos nos quais o polonês figura em piadas de gente estúpida e atrasada (“Quantos poloneses precisa pra trocar uma lâmpada? Três: um segura a lâmpada, dois giram a escada”). Inspirada numa história real, na qual eles foram os perdedores.

O que realmente aconteceu é que, no exato primeiro dia da guerra, ao fim da tarde, o 18o Regimento de Ulanos (cavalaria leve) viu uma oportunidade perto da vila de Krojanty. Um grupo de infantaria alemã descansava desavisado numa clareira. Não havia blindados nem ninhos de metralhadoras à vista, o que fazia daquilo um conflito pré-Primeira Guerra. A carga começou às 19h.

Ulano polonês
Ulano polonês em 1938 (Foto: Domínio Público)

Uma carga de cavalaria não é algo a ser subestimado. Um grupo de homens montados em alta velocidade, cortando seus companheiros a torto e direito com sabres – e também atirando sem dar chance – é algo aterrorizador. Um choque moral garantido, que funcionou então como havia funcionado por toda a história: os alemães saíram correndo para a floresta.

Teria sido pior para os alemães se os cavaleiros poloneses não fossem surpreendidos por um grupo de blindados leves que estava próximo. Não tentaram nada, bateram em retirada. E, ainda assim, para se ter uma ideia do poder de metralhadoras contra cavalos, um terço da tropa foi eliminada, inclusive o comandante, Eugeniusz Świeściak.

Mas não foi em vão: o ataque atrasou os alemães o suficiente para a infantaria polonesa conseguir se retirar em segurança.

Hussardo polonês
Hussardo polonês, considerado a mais eficiente cavalaria de sua época, em quadro de 1810 (Aleksander Orlowski/Domínio Público)

No dia seguinte, correspondentes alemães vieram a campo e viram cavalos e cavaleiros poloneses mortos, ao lado de tanques alemães, que haviam chegado depois da batalha. Assim nasceria a lenda.

CAVALOS EM AÇÃO

Mas há alguns detalhes que ficam fora da história: os poloneses portavam, de seus cavalos, fuzis antitanque, capazes de penetrar a blindagem dos tanques alemães ainda primitivos usados em 1939. Também estavam em processo de mecanização – os poloneses tinham 210 tanques no começo da guerra. Nem de perto o suficiente para fazer frente aos 2750 dos alemães, mas não era um exército napoleônico, enfim.

Por fim, algo que você nunca viu em filmes: cavalos fizeram parte da Segunda Guerra. Eram usados principalmente para puxar peças de artilharia, mas também para observação. A Alemanha mesma usou 2,75 milhões deles ao longo guerra (a União Soviética empregaria outros 3,5 milhões). Inclusive estavam lá na invasão da Polônia:

Cavaleiros alemães na invasão da Polônia
Alemães montados na Polônia, 1o de setembro de 1939 (Foto: Bundesarchiv)

A última carga de cavalaria bem-sucedida seria na Segunda Guerra. Foi em 1o de março de 1945, na vila de Schoenfeld. Uma posição de artilharia antitanque alemã foi destruída por ninguém menos que os poloneses – o que certamente dá um sabor especial à história toda.