Flashback https://flashback.blogfolha.uol.com.br Tudo é história Thu, 27 Aug 2020 19:18:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Stalin criou a teoria da conspiração de que Hitler sobreviveu https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/04/30/stalin-criou-a-teoria-da-conspiracao-de-que-hitler-sobreviveu/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/04/30/stalin-criou-a-teoria-da-conspiracao-de-que-hitler-sobreviveu/#respond Thu, 30 Apr 2020 23:16:50 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/HitlerEva-3.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=472 A história real não é consenso: Hitler se matou com uma cápsula de cianureto seguida por um tiro na têmpora em algum momento entre as 15h e 16h de 30 de abril de 1945. Seu corpo foi levado à saída do bunker e cremado a céu aberto, depois cremado mais um pouco e enterrado numa cova rasa numa cratera de explosão de artilharia soviética. Em 1º de maio, os alemães ouviram pelo rádio que Adolf Hitler estava morto e o almirante Karl Dönitz assumiria como presidente. No dia seguinte, as forças alemãs em Berlim se renderiam. A rendição final, de forças além de Berlim, só viria dia 8.

Desde a descoberta, o destino dos restos de Hitler ficou com os soviéticos. No dia 4 de maio, os restos de Hitler, Eva Braun, Blondi, a pastora alemã de Hitler, e outro cachorro não identificado foram encontrados pelo comandante soviético Ivan Klimenko. Eles foram levados ao centro de contra-inteligência (Smersh) no dia seguinte. Stalin desconfiou que seria um casal de impostores e restringiu toda informação. No dia 11, com a ajuda dos assistentes de seu dentista e seus registros, os soviéticos identificaram os restos como de Hitler. A mandíbula e os dentes que serviram de identificação foram enviados a Moscou, o resto, enterrados numa floresta em Brandenburgo.

Stalin aceitou a verdade. E passou a dizer que era mentira, declarando sua teoria pela primeira vez na Conferencia de Potsdam, em julho, que seria, por anos, a versão oficial soviética: Hitler havia fugido para a Argentina ou Espanha, com a ajuda dos Aliados ocidentais. O líder soviético, assim, é a origem das teorias da conspiração que circulam ainda hoje. Ainda em 1947, uma pesquisa revelava que a maioria dos americanos acreditava que Hitler estava vivo.

Os países ocidentais, que haviam replicado o comunicado dos alemães e aceito sua versão, ordenaram uma investigação ainda em novembro de 1945, que concluiu que era verdade: Hitler estava morto. Continuaram a realizar buscas até os anos 1950 e nenhuma revelou Adolf comendo alfajor em Buenos Aires.

Mas a pergunta é: o que Stalin queria com isso? Ele nunca explicou e historiadores discutem ainda hoje. Uma hipótese é que queria minar o apoio dos outros países à Espanha e Argentina, na qual o fascismo seguia vivo. Outra é que a ideia de Hitler vivo mantinha também vivo o espírito de ameaça que manteve o moral alto na guerra. E uma possibilidade bem mais mesquinha é que fosse uma rixa com o Marechal Georgy Jukov, chefe das forças soviéticas, que havia sido alçado à posição de herói nacional por seu sucesso. Jukov chegou a dizer aos aliados que o corpo de Hitler fora encontrado, para tomar uma bronca de Stalin e ser forçado a aderir à versão oficial.

Os exumaram os restos de Brandenburgo em fevereiro de 1946, quando partes do crânio foram enviadas a Moscou, onde estão hoje tudo o que restou de Hitler. O que sobrou foi reenterrado em outro local secreto em Magdeburgo. Em 1970, numa operação secreta, foram exumados mais uma vez, cremados, moídos, e jogados no Rio Biederitz. O plano de não haver sepultura pra Hitler evitar criar um santuário para neonazistas. E os soviéticos estavam certos: foi exatamente o que aconteceu com Mussolini.

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Quantos Stalin matou? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/22/quanto-stalin-matou/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/22/quanto-stalin-matou/#respond Mon, 22 Jul 2019 22:15:37 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/stalin-300x215.png http://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=62 Livros ainda serão escritos sobre como o número de pessoas mortas por um premiê soviético se tornou tema de disputa política no Brasil. Se você perguntar à internet brasileira, a resposta varia entre “pouco” e “100 milhões” ou mais.

Mas este é um caso peculiar em que, se a mesma pergunta for feita a historiadores profissionais, a resposta será quase tão discrepante quanto. Os neostalinistas (raros no Ocidente, em ascensão na Rússia) vão falar em menos de 100 mil, e relativizar mesmo esses números. Do outro lado, já se falou em até 110 milhões – pelo escritor e historiador dissidente Alexander Soljenítsin, em 1975, logo após ser expulso da União Soviética.

Um número assim não é levado mais a sério hoje em dia. Mas foi bastante circulado durante a Guerra Fria, quando acadêmicos ocidentais confiavam no testemunho e estatísticas produzidas por dissidentes. Por exemplo, o historiador americano Rudolph Rummel, em 1990, publicou sua estimativa de 51,5 milhões de mortes no período Stalin.

Após a queda do regime soviético, em 1991, os arquivos da inteligência soviética foram abertos e os historiadores puderam finalmente contar com números oficiais. E esses números acabaram parecendo modestos em comparação. São eles:

  1. Execuções políticas (1929-1953): 777.975
  2. Mortes nos gulags (campos de trabalhos forçados): entre 1,5 e 1,7 milhões
  3. Mortos no reassentamento dos kulaks (proprietários de terras): 389.521
  4. Mortos em outros reassentamentos: 309.521
  5. Mortos na Grande Fome da Ucrânia (Holodomor): mínimo 1,8 milhões, máximo 6,7 milhões (pesquisa pelo historiador australiano Stephen G. Wheatcroft; já se chegou a falar até em 20 milhões).

Total: 3,2 – 9,9 milhões.

Em sua forma bruta, esses números não são aceitos por ninguém. Entre outras coisas, está em disputa se a fome da Ucrânia foi mesmo uma política deliberada de extermínio por Stalin, com o governo do país adotando como posição oficial que foi um genocídio. Historiadores variam entre concordar ou considerar o desastre resultado da coletivização agrícola de Stalin e/ou também problemas climáticos. Neostalinistas não só descontam o Holodomor, como afirmam que as mortes nos Gulags foram naturais em sua maioria e que os números de execuções listados pela NKVD foram inflados. Mais comum é ir na direção oposta, argumentando que os números oficiais certamente ficam aquém da realidade, com execuções e mortes nos gulags subnotificadas.

Noves fora, no que pode ser considerado mainstream hoje, Stalin foi responsável pela morte de algo entre 9 milhões (Oleg Khlevniuk, da Universidade de Moscou, uma das maiores autoridades da Rússia atual) a 20 milhões ou mais (o historiador britânico Simon Sebag Montefiore, autor das recentes biografias de Stalin e Lenin). Na média, 15 milhões é um número frequentemente citado.

Sejam 3, 9, 15 ou 20 os milhões de Stalin são menos do que se ouve por ai, mas ainda muita, muita gente. E, já que ninguém vai resistir à tentação de comparar com Hitler, o número desse fica entre 10 milhões e 25 milhões. Mas isso não conta a Segunda Guerra na Europa, que ele causou, e custou mais uns 35 milhões, pelo menos.

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