Flashback https://flashback.blogfolha.uol.com.br Tudo é história Thu, 27 Aug 2020 19:18:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 É verdade que poloneses atacaram tanques com cavalos na Segunda Guerra? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/e-verdade-que-poloneses-atacaram-tanques-com-cavalos-na-segunda-guerra/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/09/03/e-verdade-que-poloneses-atacaram-tanques-com-cavalos-na-segunda-guerra/#respond Tue, 03 Sep 2019 21:02:24 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/1081px-Winter_Horse_Face_Portrait-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=223 Não. Mas atacaram alemães com cavalos. Foi um sucesso.

A imagem meio quixotesca, meio ignóbil de poloneses enviando cavaleiros contra tanques, pra bater com suas espadas contra a blindagem, foi uma invenção da propaganda nazista, inspirada em estereótipos nos quais o polonês figura em piadas de gente estúpida e atrasada (“Quantos poloneses precisa pra trocar uma lâmpada? Três: um segura a lâmpada, dois giram a escada”). Inspirada numa história real, na qual eles foram os perdedores.

O que realmente aconteceu é que, no exato primeiro dia da guerra, ao fim da tarde, o 18o Regimento de Ulanos (cavalaria leve) viu uma oportunidade perto da vila de Krojanty. Um grupo de infantaria alemã descansava desavisado numa clareira. Não havia blindados nem ninhos de metralhadoras à vista, o que fazia daquilo um conflito pré-Primeira Guerra. A carga começou às 19h.

Ulano polonês
Ulano polonês em 1938 (Foto: Domínio Público)

Uma carga de cavalaria não é algo a ser subestimado. Um grupo de homens montados em alta velocidade, cortando seus companheiros a torto e direito com sabres – e também atirando sem dar chance – é algo aterrorizador. Um choque moral garantido, que funcionou então como havia funcionado por toda a história: os alemães saíram correndo para a floresta.

Teria sido pior para os alemães se os cavaleiros poloneses não fossem surpreendidos por um grupo de blindados leves que estava próximo. Não tentaram nada, bateram em retirada. E, ainda assim, para se ter uma ideia do poder de metralhadoras contra cavalos, um terço da tropa foi eliminada, inclusive o comandante, Eugeniusz Świeściak.

Mas não foi em vão: o ataque atrasou os alemães o suficiente para a infantaria polonesa conseguir se retirar em segurança.

Hussardo polonês
Hussardo polonês, considerado a mais eficiente cavalaria de sua época, em quadro de 1810 (Aleksander Orlowski/Domínio Público)

No dia seguinte, correspondentes alemães vieram a campo e viram cavalos e cavaleiros poloneses mortos, ao lado de tanques alemães, que haviam chegado depois da batalha. Assim nasceria a lenda.

CAVALOS EM AÇÃO

Mas há alguns detalhes que ficam fora da história: os poloneses portavam, de seus cavalos, fuzis antitanque, capazes de penetrar a blindagem dos tanques alemães ainda primitivos usados em 1939. Também estavam em processo de mecanização – os poloneses tinham 210 tanques no começo da guerra. Nem de perto o suficiente para fazer frente aos 2750 dos alemães, mas não era um exército napoleônico, enfim.

Por fim, algo que você nunca viu em filmes: cavalos fizeram parte da Segunda Guerra. Eram usados principalmente para puxar peças de artilharia, mas também para observação. A Alemanha mesma usou 2,75 milhões deles ao longo guerra (a União Soviética empregaria outros 3,5 milhões). Inclusive estavam lá na invasão da Polônia:

Cavaleiros alemães na invasão da Polônia
Alemães montados na Polônia, 1o de setembro de 1939 (Foto: Bundesarchiv)

A última carga de cavalaria bem-sucedida seria na Segunda Guerra. Foi em 1o de março de 1945, na vila de Schoenfeld. Uma posição de artilharia antitanque alemã foi destruída por ninguém menos que os poloneses – o que certamente dá um sabor especial à história toda.

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‘Corredor da Morte’ da Alemanha deu origem a uma imensa reserva ambiental involuntária https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/08/16/cinturao-verde-alemanha/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/08/16/cinturao-verde-alemanha/#respond Fri, 16 Aug 2019 20:28:35 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/CinturaoVerdeAlemanha2-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=164 É uma memória distante mesmo para quem viveu, mas, entre derrota nazista, em 1945, e a reunificação, em 1990, existiram duas Alemanhas. Conforme combinado entre Stalin e os aliados ocidentais, o país foi divido em 4 zonas de influência: soviética, americana, francesa e britânica, ocupadas pelo respectivo exército. A área soviética se tornou a República Democrática da Alemanha, mais conhecida por Alemanha Oriental, regime marxista de partido único. As outras três, a República Federal da Alemanha, ou Ocidental, a democracia liberal capitalista.

Entre essas duas, havia a Fronteira Interna Alemã – informalmente, Corredor da Morte, um cordão de isolamento formado por cercas eletrificadas e com alarmes, muros, torres de vigilância, campos minados, armadilhas para carros e pessoas. Ela surgiu 16 anos antes do Muro de Berlim, de 1961 – esse isolava a parte capitalista da antiga capital, também decidida na divisão, que se tornou um enclave na Alemanha comunista.

Cinturão Verde da Alemanha
Em verde, a Fronteira Interna das Alemanhas (Wikimedia Commons)

Por quatro décadas, qualquer ser humano que ousasse se aproximar da Fronteira Interna tinha grandes chances de nunca mais sair de lá. O isolamento era uma faixa de 500 m até 1 km do lado oriental, e, por segurança, não lei, ao menos 100 metros na ocidental. Isso que fez de uma linha de 1.400 km entre as duas Alemanhas um território livre de humanos. E, com isso, “a natureza essencialmente ganhou um feriado de 40 anos”, como definiu o ambientalista Kai Frobel à rede de TV alemã Deutsche Welle.

Cinturão Verde da Alemanha
Remanescente da cerca que dividia as Alemanhas, no Cinturão Verde (foto: Jurgen Skaa/Flickr/CC)

Frobel é considerado o pai do Cinturão Verde, um projeto de preservação da ONG Bund für Umwelt und Naturschutz Deutschland (“Federação Alemã pelo Ambiente e Conservação da Natureza”). Desde sua fundação, em 1975, a Bund, como é chamada pelos alemães, passou a observar, a uma distância segura, de binóculos, como a natureza reagia à ausência humana na fronteira entre os dois mundos.

Reagia bem. No Cinturão Verde, mais de 1.200 espécies consideradas em risco encontram moradia em seus 109 habitats diferentes.

O cinturão não é um parque contínuo. Existem múltiplas áreas preservadas ao longo da antiga fronteira, mas 200 km dos 1.400 km totais são interrompidos por fazendas, estradas e outras obras. O projeto, que conta com a colaboração do governo alemão, é ir ligando essas áreas comprando terras e conseguindo acordos com governos locais. E existe um plano, ainda bem mais ambicioso, de criar o Cinturão Verde Europeu, ocupando toda a fronteira da antiga Cortina de Ferro, uma linha de 12.500 km passando por 24 países.

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