Flashback https://flashback.blogfolha.uol.com.br Tudo é história Thu, 27 Aug 2020 19:18:00 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Há 60 anos, cadelas se tornavam as primeiras criaturas a sobreviver ao espaço https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/08/19/belka-strelka-cachorras-espaco/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/08/19/belka-strelka-cachorras-espaco/#respond Wed, 19 Aug 2020 22:05:47 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/08/BelkaStrelka-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=601 Em 20 de agosto de 1960, as primeiras criaturas vivas voltavam do espaço… com vida. A famosa cadela Laika, que decolara no Sputink 2, em 3 de novembro de 1957, havia morrido de hiperaquecimento horas após o lançamento, quando a temperatura interna chegou a 43o C. Mesmo sem o calor, não havia qualquer chance para ela, porque sua nave não era nave. Era um satélite, que ficou meses no espaço, se desintegrando na atmosfera só em 14 de abril de 1958.

Quase 3 anos depois, os soviéticos estavam prontos para trazer de volta criaturas vivas. Ou quase: era a segunda tentativa. Na primeira, em 28 de julho de 1960, a nave se desintegrou logo após o lançamento, matando dois outros cachorros, Bars e Lisichka.

Às 8h44 da manhã, a Korabl-Sputnik 2, que ficaria conhecida como Spunik 5 no Ocidente, decolava de um míssil nuclear modificado R-7 Semyorka. No módulo Vostok 1, iam não só as duas cachorras, Belka e Strelka, como 40 camundongos, dois ratos e diversas plantas. Após 5 órbitas, às 6h da manhã do dia seguinte, a nave reentrava na atmosfera, para ser recuperada na Sibéria. Todos os ocupantes estavam vivos.

O surpreendente vem agora. Strelka, de volta ao centro de treinamento, teria um filhote com um cachorro chamado Pushok, que nunca chegou a ser mandado ao espaço. E um dos filhotes, uma cadela batizada de Pushinka, foi dada de presente ao presidente americano John Kennedy pelo premiê soviético. E aceita de coração, apesar da preocupação de agentes de segurança de que a cachorrinha tivesse algum tipo de grampo secreto. Ela teria mais quatro filhotes com um cachorro Chamado Charlie. Eventualmente, com a morte de Kennedy, a família passaria seus cães para amigos. Longe da Casa Branca, a linhagem da cadela espacial soviética segue viva nos EUA.

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Stalin criou a teoria da conspiração de que Hitler sobreviveu https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/04/30/stalin-criou-a-teoria-da-conspiracao-de-que-hitler-sobreviveu/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/04/30/stalin-criou-a-teoria-da-conspiracao-de-que-hitler-sobreviveu/#respond Thu, 30 Apr 2020 23:16:50 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/HitlerEva-3.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=472 A história real não é consenso: Hitler se matou com uma cápsula de cianureto seguida por um tiro na têmpora em algum momento entre as 15h e 16h de 30 de abril de 1945. Seu corpo foi levado à saída do bunker e cremado a céu aberto, depois cremado mais um pouco e enterrado numa cova rasa numa cratera de explosão de artilharia soviética. Em 1º de maio, os alemães ouviram pelo rádio que Adolf Hitler estava morto e o almirante Karl Dönitz assumiria como presidente. No dia seguinte, as forças alemãs em Berlim se renderiam. A rendição final, de forças além de Berlim, só viria dia 8.

Desde a descoberta, o destino dos restos de Hitler ficou com os soviéticos. No dia 4 de maio, os restos de Hitler, Eva Braun, Blondi, a pastora alemã de Hitler, e outro cachorro não identificado foram encontrados pelo comandante soviético Ivan Klimenko. Eles foram levados ao centro de contra-inteligência (Smersh) no dia seguinte. Stalin desconfiou que seria um casal de impostores e restringiu toda informação. No dia 11, com a ajuda dos assistentes de seu dentista e seus registros, os soviéticos identificaram os restos como de Hitler. A mandíbula e os dentes que serviram de identificação foram enviados a Moscou, o resto, enterrados numa floresta em Brandenburgo.

Stalin aceitou a verdade. E passou a dizer que era mentira, declarando sua teoria pela primeira vez na Conferencia de Potsdam, em julho, que seria, por anos, a versão oficial soviética: Hitler havia fugido para a Argentina ou Espanha, com a ajuda dos Aliados ocidentais. O líder soviético, assim, é a origem das teorias da conspiração que circulam ainda hoje. Ainda em 1947, uma pesquisa revelava que a maioria dos americanos acreditava que Hitler estava vivo.

Os países ocidentais, que haviam replicado o comunicado dos alemães e aceito sua versão, ordenaram uma investigação ainda em novembro de 1945, que concluiu que era verdade: Hitler estava morto. Continuaram a realizar buscas até os anos 1950 e nenhuma revelou Adolf comendo alfajor em Buenos Aires.

Mas a pergunta é: o que Stalin queria com isso? Ele nunca explicou e historiadores discutem ainda hoje. Uma hipótese é que queria minar o apoio dos outros países à Espanha e Argentina, na qual o fascismo seguia vivo. Outra é que a ideia de Hitler vivo mantinha também vivo o espírito de ameaça que manteve o moral alto na guerra. E uma possibilidade bem mais mesquinha é que fosse uma rixa com o Marechal Georgy Jukov, chefe das forças soviéticas, que havia sido alçado à posição de herói nacional por seu sucesso. Jukov chegou a dizer aos aliados que o corpo de Hitler fora encontrado, para tomar uma bronca de Stalin e ser forçado a aderir à versão oficial.

Os exumaram os restos de Brandenburgo em fevereiro de 1946, quando partes do crânio foram enviadas a Moscou, onde estão hoje tudo o que restou de Hitler. O que sobrou foi reenterrado em outro local secreto em Magdeburgo. Em 1970, numa operação secreta, foram exumados mais uma vez, cremados, moídos, e jogados no Rio Biederitz. O plano de não haver sepultura pra Hitler evitar criar um santuário para neonazistas. E os soviéticos estavam certos: foi exatamente o que aconteceu com Mussolini.

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As armas nucleares trouxeram a paz? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/as-armas-nucleares-trouxeram-a-paz/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/29/as-armas-nucleares-trouxeram-a-paz/#respond Wed, 29 Jan 2020 23:25:00 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/Castle_Bravo_007-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=368 A “paz” atômica é uma realidade da Guerra Fria que continua até hoje. Sim, hoje, mesmo depois de acordos terem reduzido o arsenal nuclear mundial em 95% – de 70.300 em 1986 para 3.750 em 2019, dos quais 1.750 pertencem aos EUA e 1600 à Rússia, pelo relatório do Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo.

A única vez em que dois países com armas nucleares entraram em confronto foi na Guerra de Kargil, entre maio e julho de 1999, quando Índia e Paquistão lutaram por uma região de fronteira. Apesar de declarações ambíguas dos dois lados, que davam a entender a possibilidade do uso das armas nucleares, a intensa oposição diplomática internacional contra o Paquistão, que havia começado a guerra, fez com que o país desistisse.

Essa tensa situação é a chamada MAD (Mutually Assured Destruction, “Destruição Mútua Assegurada”). A ideia é simples: “eu morro, você morre”. Se um país atacar outro com armas nucleares, é destruído por armas nucleares. E a maior prova de que a MAD funciona é o quanto os países tentaram acabar com ela.

CORRIDA CONTRA A PAZ

Em 1949, quatro anos e 20 dias depois da bomba de Hiroshima, a União Soviética fez seu primeiro teste nuclear. Quando isso aconteceu, os países tinham o mesmos método para atacar com armas nucleares: bombardeiros. Isso foi mudado em 4 de outubro de 1957, quando o lançamento do Sputink 1, o primeiro satélite artificial, causou pânico nos EUA. Foi entendido que, se os soviéticos podiam colocar uma esfera de aço no espaço, podiam também alcançar os EUA com mísseis nucleares. E era exatamente isso: o lançador do satélite era uma versão modificada do foguete R-7 Semyorka, o primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), capaz de sair da URSS e atingir o território americano pelo espaço. Os EUA correram atrás e conseguiram lançar sua versão, o Atlas, em novembro do ano seguinte.

A chamada corrida armamentista foi, e é, mais que criar armas, dar um jeito de acabar com a MAD, seguido por acabar com o jeito que inventaram para acabar com a MAD. Cada país queria ter a capacidade de atacar primeiro. Um “ataque decapitador” cujos alvos prioritários não eram cidades e populações civis, mas instalações nucleares adversárias e centros de comando, cuja localização era ao menos parcialmente conhecida por satélite e aviões espiões. E uma escapatória foi continuar a usar aviões: entre 1960 e 1968, os EUA mantiveram uma frota armada de de bombardeiros B-52 no ar indefinidamente, numa rota que se aproximava do espaço aéreo soviético. Outra são submarinos nucleares, impossíveis de detectar, que circulam armados pelos oceanos até hoje. Aviões, ICBMS e submarinos formam a tríade nuclear possuída por Rússia, China, EUA, Índia e, possivelmente, Israel.

Outra tentativa de burlar a MAD foi instalar armas mais perto, mísseis de médio ou curto alcance. Um ICBM leva meia hora até atingir seu alvo, enquanto um próximo pode fazer isso em questão de minutos, não dando tempo para reação. Quando os EUA instalaram mísseis na Turquia, a URSS reagiu instalando em Cuba – levando à Crise dos Mísseis de 1962, o mais próximo que o mundo chegou da aniquilação nuclear, e terminou com ambos retirando seus mísseis.

O equilíbrio também é ameaçado por sistemas antimíssil, uma ideia tão antiga quanto os mísseis, desenvolvida em paralelo. Basicamente, são mísseis (antigamente nucleares) que explodem no espaço, destruindo os mísseis rivais. Os EUA criaram os mísseis Nike-Zeus em 1961 e os soviéticos, que começaram o trabalho em 1959, puseram seu A-35 em operação em 1971. Ainda que seja uma medida defensiva, se um país a possui, pode atacar impunemente. Se ambos a possuem, não tem mais paz atômica.

A reação, antes mesmos de os mísseis antimíssil soviéticos ficaram prontos, foi criar os veículos múltiplos de reentrada (MIRV): um míssil que se reparte em vários outros.  Isso quer dizer que, para cada míssil, o inimigo precisa criar até 10 outros mísseis antimíssil – e, na Guerra Fria, falávamos de caríssimos mísseis nucleares.

DE VOLTA À CORRIDA

A tecnologia criou uma situação insustentável para ambos os lados. Em 1972, EUA e União Soviética firmaram um acordo limitando o número de mísseis antimíssil. Em 1993, depois do fim da URSS, foi feito um acordo anti-MIRV entre Rússia e EUA, que previa o banimento total, mas nunca foi concluído. Ambos terminaram cancelados em 2002, quando os EUA abandonou o primeiro e a Rússia anunciou que iria ignorar o segundo.

Novos acordos se seguiram, os arsenais diminuíram, mas continuamos numa situação em que dois países com mais de 1600 armas – só as ativas, não as que podem ser montadas em questão de dias ou estocadas desde a Guerra Fria – tentam criar formas como poderiam aniquilar o outro primeiro.

Estamos vivendo uma nova, se mais discreta, corrida armamentista. Em 2009, o presidente dos EUA Barack Obama anunciou um reforço ao sistema AEGIS antimíssil, que usa antimísseis mais baratos que armas nucleares, programa que segue em desenvolvimento ainda hoje. A Rússia, por seu turno, está desenvolvendo o ICBM RS-28 Sarmat, pensado para levar 15 ogivas em MIRV e burlar defesas antimíssil de diversas formas, como dividindo sua carga antes de ser interceptado e contando com um sistema antimíssil ele próprio.

O que nos leva, finalmente, de volta à pergunta do título. Além da Crise dos Mísseis, a Guerra Fria teve várias passagens assustadoras, como, em 26 de setembro de 1983, quando o coronel soviético Stanislav Petrov recebeu um alerta de seus equipamentos, mostrando que os EUA tinham disparado mísseis. Isso o obrigava a iniciar um ataque de retaliação, algo que ele simplesmente se recusou a fazer, por ter um palpite que o alarme era falso. Era, mas o mundo foi salvo da aniquilação por alguém não seguindo o plano. E esse é um entre ao menos 10 eventos semelhantes em ambos os lados.

Existe também a possibilidade de uma arma nuclear de algum país cair nas mãos de grupos terroristas. Essa é contrabalançada pela possibilidade de detectar a “assinatura” de um ataque atômico, características que permitem saber qual país fez a arma. Mas é uma defesa tênue.

Enfim, o que a história demonstra é que armas nucleares não garantem a paz. Garantem a paz nuclear. Que é outra coisa: uma paz que pode ser a causa da guerra. Se não foi ainda, é em boa parte por pura sorte.

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Em 1970, Brasil tinha uma ditadura mais repressiva que a da URSS, afirma estudo da CIA https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/estudo_cia_polity_brasil_urss/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/17/estudo_cia_polity_brasil_urss/#respond Fri, 17 Jan 2020 22:35:10 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/880px-golpe_de_1964-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=355 Comentando sobre a ausência de questões no Enem sobre a ditadura militar, o ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou hoje que é um tema “polêmico” e “não há pacificação sobre o que aconteceu”. Ele não explicitou qual é a polêmica exatamente, mas o fato é que a ditadura brasileira é tão “polêmica” para o resto do mundo quanto o Genocídio Armênio é “polêmico” fora da Turquia.

Vamos trazer um exemplo que não podia ser menos de esquerda: a CIA. Essa mesma, a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos. A fonte pública da CIA afirma que o que, há 50 anos, o Brasil não só era uma ditadura, quanto extremamente repressiva. De fato, mais que a União Soviética ou Cuba na mesma época.

O diretor atual do Estudo explica por que, mas primeiro vamos ao estudo em si.

Usado pela agência e também referência para o próprio governo americano, o estudo Polity, atualmente na versão 4, teve início nos anos 1960, pelo trabalho do falecido cientista político Ted Robert Gurr (1936-2017), da Universidade de Maryland. Ele classifica o tipo de regime dos países do mundo. O trabalho de Gurr foi bancado pela CIA e a versão atual é feita pela ONG Center for Systemic Peace (“Centro para Paz Sistêmica”), criada e patrocinada pela Political Instability Task Force (“Força-tarefa da Instabilidade Política”), fundada também pela CIA, em 1994.

O Polity dá uma nota entre -10 e 10, de absoluta ditadura a absoluta democracia. Ou, pelos termos do estudo:  democracia (6-10), anocracia aberta (1-5), anocracia fechada (-1 a -5) e autocracia (-6 a -10). Anocracia querendo dizer um regime híbrido, nem democracia, nem ditadura total. Em sua última edição, cobrindo até 2013, o Brasil levava uma nota 8 e a Venezuela, 4.

Nos tempos da ditadura, entre o AI-2 e a abertura de Geisel, o Brasil tem uma nota -9. O que quer dizer autocracia absoluta, a mesma nota da União Soviética no fim do regime Stalin e da China durante a Revolução Cultural.

Gráfico Polity IV do Brasil
O gráfico do Brasil mostra uma democracia em queda, a ditadura e a abertura (Reprodução)

Na mesma época, a União Soviética levava -7:

Polity IV Russia
O gráfico da Rússia mostra uma ligeira melhora após a morte de Stalin, em 1953 (Reprodução)

Assim como Cuba:

Polity IV Cuba
Relatório de Cuba mostra a ditadura atual e a anterior, de Fulgéncio Batista (Reprodução)

Os únicos a ganhar -10 são a Coreia do Norte e o Haiti de Baby Doc Duvalier.

O Polity IV não conta mortes, mas a situação política de um país. E, em seu relatório, usa o termo “ditadura militar” para explicar o tipo de regime brasileiro, sem qualificação adicional. Monty G. Marshall, diretor atual do Centro para Paz Sistêmica, explica as razões para a nota tão baixa: “[O estudo] Polity não mede especificamente repressão, mas ele nota a coerção em determinar política pública ou limitar competição política. Em geral, ditaduras militares são semelhantes a Estados hegemônicos de partido único. Elas via de regra têm um sistema se auto-seleção para o Executivo ou autoridade designada para o Executivo”. A ditadura brasileira confirmava seus generais no Congresso, mas qual seria o “candidato” marcado para ganhar era escolhidos em decisão interna da cúpula militar. Quanto à comparação com a União Soviética, é a de uma ditadura ativa para uma que já havia sido pacificada. “O grau de repressão nas autocracias é uma função da intensidade do dissenso entre ativistas de oposição, no lugar de uma forma específica de autoridade executiva. Repressão sempre é aplicada por forças de seguranças leais em resposta a provocações reais ou percebidas. Autocracias podem evitar repressão aberta quando os elementos da sociedade civil se mantém obedientes ou inativos.”

Sobre a questão eleitoral da ditadura, a de que havia um sistema com um partido de oposição permitido e eleições regulares – geralmente levantada por seus apoiadores para negar seu status de ditadura – Monty diz que é irrelevante: “É a intenção do sistema de classificação Polity garantir que pseudo ‘democracias’recebam nota de acordo com suas práticas, não suas ‘fachadas’. Muitos regimes personalistas e de partido único tentam aumentar as percepções de legitimidade por procedimentos eleitorais que são controlados pelo regime. Desde a queda do comunismo soviético, essas ‘fachadas democráticas’ foram entendidas por autocratas como uma farsa necessária para abrandar a crítica internacional. Mas essa expectativa de penduricalhos democráticos parece estar retrocedendo em anos recentes.”

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Onde estarão ‘golfinhos assassinos comunistas’ do Irã? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/10/ira-golfinhos-assassinos-comunistas/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2020/01/10/ira-golfinhos-assassinos-comunistas/#respond Fri, 10 Jan 2020 22:49:51 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2020/01/Parc_Asterix_22-300x215.jpg https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=345 Com esse nome mesmo, “golfinhos assassinos comunistas”: a notícia saiu no site miltary.com, passou a tabloides britânicos e está se espalhando. O Irã poderia ser portador de uma arma secreta: golfinhos da ex-URSS treinados para matar. Matar horrivelmente.

As notícias são especulativas. Mas golfinhos assassinos comunistas – e capitalistas – têm uma história que merece ser contada e involve o Irã. Há razões para acreditar que o país possa ter seus golfinhos assassinos… jihadistas? Khomeinistas?

Golfinhos militares são reais. Eles existem há mais de 5 décadas. Em 1960, a marinha dos EUA capturou golfinhos para um estudo sobre hidrodinâmica, a ser usado em novos modelos de torpedos. Rapidamente, os cientistas notaram como eram extremamente amigáveis e dispostos a aprender. Assim, em 1962, um segundo programa foi começado, para testar as capacidades militares dos animais. Não só golfinhos de diversas espécies, como belugas, orcas e leões-marinhos foram testados. No final, leões-marinhos e golfinhos nariz-de-garrafa foram escolhidos, num programa que foi empregado nas guerras do Vietnã, do Golfo e do Iraque.

Nós não somos um animal marinho; eles são. Golfinhos são imensamente superiores a humanos embaixo d’água. Eles se orientam por ecolocalização, “vendo” no escuro ou em águas turvas. Com isso, conseguem achar objetos e, principalmente, pessoas com uma facilidade muito maior que qualquer equipamento ou mergulhador. Nas ações da Marinha dos EUA, eles disparam boias localizadoras próximas a minas aquáticas ou objetos perdidos no mar, ou prendem sinalizadores em mergulhadores inimigos, por meio de uma suave narigada. Os “soldados” voltam para avisar seu treinador e ganham um peixe. E para por aí: quem mata, se precisar, são humanos, que jogam granadas submarinas contra o mergulhador.

Os americanos afirmam jamais ter pesquisado o uso letal de mamíferos marinhos. Dizem que não conseguem diferenciar civis de militares, nem amigos de inimigos. Mas dissidentes, como o ex-treinador da Marinha Michael Greenwood, que fez sua denúncia em 1977, afirmam que houve, sim, pesquisas de armas letais, que incluíram tentar criar golfinhos kamikaze.

Nessas denúncias, uma arma particularmente escabrosa: uma agulha ligada a um tubo de gás carbônico comprimido, perfurando o torso do inimigo humano numa narigada. O gás faria o mergulhar inflado boiar até a superfície sem controle. Na prática, seria menos Looney Tunes e mais Faces da Morte. “Eles iriam para a superfície”, afirmou o conservacionista Doug Cartlidge, consultor da Sociedade Europeia de Cetáceos, em entrevista para a ukdiving.com. “Claro que iriam. Mas seria com suas tripas saindo por ambas as pontas.”

Carlidge afirma ter visitado nos anos 90 o que restara do programa soviético, na Ucrânia, numa base em Sevastópol, Crimeia. Ele descreveu o golfinho assassino soviético como algo mais sofisticado que o americano de décadas antes. Ele encaixaria um localizador no inimigo, como fazem os americanos, mas esse localizador também teria a ampola de gás comprimido. Primeiro os marinheiros tentariam capturar o inimigo vivo. Apenas se não o encontrassem ativariam o sistema letal. Doug acredita também que os EUA têm um programa letal secreto, do qual nem os próprios treinadores não letais da Marinha fazem ideia.

Com a queda do regime soviético, no fim de 1991, o programa sobreviveu até 2000. A Ucrânia o retomou em 2012, diante das tensões crescentes com a Rússia e, ironia, perdeu a Crimeia, com a base, para a Rússia em 2014. A Rússia herdou os golfinhos e afirma ter uma versão “de ataque”, capaz de operações letais.

O que tem o Irã com isso? Voltemos a 2000: quando o programa foi encerrado, a Ucrânia vendeu os golfinhos para o Irã, o que foi reportado pela BBC à época. Com eles foram seu treinador, Boris Zhurid, que disse então que ira com eles “Para Alá ou para o Diabo, desde que estejam bem”. Como um golfinho-nariz-de-garrafa pode viver até 50 anos ou mais, os mesmos animais dos tempos soviéticos poderiam ainda estar vivos. Ou novos podem ter sido treinados.

O problema dessa teoria é: onde estarão eles? Nunca mais se ouviu falar dos golfinhos soviéticos ou de seu treinador. Não é exatamente fácil esconder grandes piscinas e animais levados a mar aberto. O E o Irã costuma alardear seus avanços militares, que servem de deterrentes para uma invasão ocidental. Em março passado, o país inclusive proibiu aquários com mamíferos marinhos, afirmando ser uma forma de abuso animal.

Se houver mesmo os golfinhos iranianos, e se houver mesmo guerra, podem encontrar seus pares americanos no Golfo Pérsico. O que aconteceria então?

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Os EUA financiaram Osama bin Laden? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/09/11/os-eua-financiaram-osama-bin-laden/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/09/11/os-eua-financiaram-osama-bin-laden/#respond Wed, 11 Sep 2019 20:05:14 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/osamastates-1-300x215.png https://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=243 Há quem veja uma uma perversa ironia nos ataques de 11 de setembro de 2001. A de que o mandante teria começado sua carreira sob patrocínio dos próprios EUA. Osama bin Laden teria recebido dinheiro da CIA durante sua participação na Guerra do Afeganistão (1979-1989). E essa é uma que mesmo quem não é adepto de teorias da conspiração costuma repetir como um fato de conhecimento público.

Bin Laden lutou no Afeganistão ao lado dos mujahidins (termo em árabe para “quem faz a Jihad”). Assim se chamavam os militantes islâmicos combatendo os soviéticos, que haviam entrado no país para tentar defender o governo afegão contra sua insurgência. E os mujahidins, definitivamente, receberam dinheiro da CIA, num total de US$ 3 bilhões (cerca de US$ 6 bilhões hoje).

Mas, até onde documentos e testemunhos podem provar, Osama nunca embolsou um tostão do Tio Sam – algo que ele e a CIA sempre afirmaram. O jornalista Peter Bergen, que escreveu sete livros sobre Bin Laden e a Guerra ao Terror, foi um dos muitos que pesquisou e não achou nada. O jornalista Steve Coll ganhou o prêmio Pulitzer por seu livro de 2004, Ghost Wars: The Secret History of the CIA, Afghanistan, and Bin Laden, from the Soviet Invasion (“Guerras-Fantasma: A História Secreta da CIA, Afeganistão e Bin Laden, da Invasão Soviética”). No livro, ele afirma: “Bin Laden se movia pelas operações de inteligência compartimentadas sauditas, fora da vista da CIA. Os arquivos da CIA não contém qualquer registro ou contato entre um oficial da CIA e Bin Laden nos anos 1980”.

Há uma razão para acreditar que Osama não foi parar no borderô da CIA: primeiro, era filho de uma das famílias mais ricas da Arábia Saudita e levou seu próprio dinheiro para financiar sua luta, parte da torrente de dinheiro saudita que foi parar nas mãos dos mujahidins.

Indiretamente, o terrorista certamente se beneficiou do patrocínio EUA. Dois de seus grandes aliados, os líderes mujahidins Gulbuddin Hekmatyar e Jalaluddin Haqqani, eram amplamente apoiados pela CIA, e continuaram a dar seu suporte a ele. Haqqani facilitou sua fuga do Afeganistão em 2001 – e, com isso, garantiu sua sobrevivência pelos anos que se seguiram.

Mas há um terrorista que atacou os EUA e foi, com certeza, patrocinado pela CIA. Omar Abdel-Rahman, o “sheik cego”, recebeu apoio americano no Afeganistão. Inclusive, a CIA mexeu uns pauzinhos para conseguir seu visto de entrada nos EUA, em 1991, quando outras autoridades desconfiavam que podia ter intenções terroristas. Menos de dois anos depois, em 23 de fevereiro de 1993, ele comandou o ataque com caminhão-bomba ao World Trade Center. O plano era fazer uma torre cair em cima da outra, mas o resultado foram seis mortos e dano local. Era para ser só um de uma série de ataques a Nova York, mas Rahman acabou preso em junho do mesmo ano, e ficaria até sua morte, em 2017. Sua história serviria de inspiração para Osama, digamos, “terminar o trabalho’ em 2001.

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Capitalismo ou comunismo? Há 60 anos, líder da URSS e vice dos EUA debatiam qual é o melhor – numa cozinha https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/debate-da-cozinha/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/24/debate-da-cozinha/#respond Wed, 24 Jul 2019 05:00:25 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/kitchen-300x215.png http://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=76 1959 deve ter sido o ano em que Guerra Fria pareceu mais próxima de terminar. Se as potências ainda estavam em corrida armamentista nuclear e tentando limitar as áreas de influência do rival, a ascensão do moderado (se irascível) Nikita Khrushchev como premiê soviético, formalizada no ano anterior, parecia apontar um caminho para a paz. Khrushchev, mantendo-se firme em sua convicção socialista, também parecia convicto que as duas potências poderiam conviver como rivais amigáveis – até que o sistema soviético se provasse superior e os EUA, cedo ou mais tarde, tivessem sua própria revolução.

Os americanos, então sob a presidência do (também moderado) Dwight Eisenhower, se mostraram abertos à ideia. Foi assim que ambos os países concordaram com um pequeno e breve enclave do rival em seu território: uma exposição nacional mútua, no modelo das então famosas exposições mundiais. Em junho de 1959, a versão soviética abriu em Nova York. No mês seguinte, era a vez da americana abrir em Moscou. Para isso, o vice-presidente Richard Nixon foi enviado à Rússia. E a inauguração transformou-se num debate a ser traduzido e transmitido nos dois países.

Em 24 de junho de 1959, Nixon e Krushchev se encontraram diante de uma cozinha americana, equipada com os mais modernos eletrodomésticos e conveniências. E ali, diante de uma lava-louça e detergentes, se dispuseram a provar qual sistema era superior. E continuaram num debate mais formal num estúdio de TV.

A conversa, quase monopolizada por Khrushchev, sob protestos de Nixon, teria partes exaltadas e algumas bravatas pouco realistas. Mas foi amigável. Diplomaticamente, o que ficaria conhecido por Kitchen Debate (“Debate da Cozinha”) seria um sucesso: em 15 de setembro, Khrushchev se tornava o primeiro premiê soviético a pisar nos EUA.

A relação começaria a azedar com a Revolução Cubana, no fim do mesmo ano. Que acabaria levando a influência soviética perto demais para o conforto dos EUA, que tentaram derrubar o regime na desastrada operação da Baía dos Porcos. Assim, três anos depois, a Crise dos Mísseis, causada pela instalação de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, deixaria o mundo à beira da aniquilação nuclear.

A seguir, um resumo (ainda assim longo) com recortes interessantes da conversa e edições para melhor compreensão.

(Duas versões ligeiramente diferentes dos originais podem ser lidas aqui e aqui). 

PARTE 1: NA EXPOSIÇÃO

[Os dois entram na cozinha da exposição americana]

Nixon: Eu quero te mostrar esta cozinha. É como as das nossas casas na Califórnia. [Aponta para uma lava-louças.]

Khrushchev: Nós temos essas coisas!

Nixon: Esse é o nosso mais novo modelo. O tipo que é construído em milhares de unidades para instalação direta nas casas. Nos Estados Unidos, gostamos de facilitar a vida das mulheres…

Khrushchev (interrompe): Sua atitude capitalista para com as mulheres não existe no comunismo!

Nixon: Acredito que essa atitude em relação às mulheres é universal. O que nós queremos é tornar a vida mais fácil para nossas donas de casa…

[…]

Nixon: Esta casa pode ser comprada por US $ 14.000 e a maioria dos americanos pode comprar uma casa na faixa de US$ 10.000 a US$ 15.000. Deixe-me dar um exemplo que você pode apreciar: nossos metalúrgicos da indústria do aço que, como vocês sabem, agora estão em greve. Qualquer metalúrgico poderia comprar esta casa. Eles ganham US$ 3 por hora. Esta casa custa cerca de US$ 100 por mês para adquirir num contrato de 25 a 30 anos.

Khrushchev: Temos metalúrgicos e camponeses que podem gastar US$ 14.000 numa casa! Suas casas americanas são construídas para durar apenas 20 anos, para que os construtores possam vender novas no final. Nós construímos com solidez. Nós construímos para nossos filhos e netos!

Nixon: Casas americanas duram mais de 20 anos, mas, mesmo assim, depois de vinte, muitos americanos querem uma nova casa ou uma nova cozinha. Sua cozinha fica obsoleta após tanto tempo… O sistema americano é projetado para tirar proveito de novas invenções e novas técnicas.

Khrushchev: Esta teoria não se sustenta. Algumas coisas nunca ficam obsoletas – casas, por exemplo, e móveis. Utilidades domésticas, talvez, mas não casas. Eu li muito sobre americanos e casas americanas, e não acho que essa exposição que você faz é estritamente precisa…

Nixon: Bem, hum …

Khrushchev: Espero não ter te insultado…

Nixon: Eu sou insultado por especialistas! Tudo o que dizemos é [num espírito de] bom humor. Fale tudo francamente!

Khrushchev: Os americanos criaram sua própria imagem do homem soviético. Mas ele não é como vocês imaginam. Acham que o povo russo ficará embasbacado de ver essas coisas, mas o  fato é que as casas russas recém-construídas têm todo esse equipamento hoje.

Nixon: Sim, mas …

Khrushchev: Na Rússia, tudo que você precisa fazer para conseguir uma casa é nascer na União Soviética. Você tem direito à moradia … Na América, se você não tem um dólar, [não] tem o direito de escolher entre dormir em uma casa ou na calçada. No entanto, você diz que somos escravos do comunismo!

Nixon: Eu aprecio que você é muito articulado e enérgico …

Khrushchev: Enérgico não é a mesma coisa que sábio.

Nixon: Se você estivesse no Senado, nós chamaríamos você de filibusteiro [alguém que fica falando sem parar para impedir uma votação]! Você domina toda a conversa e não deixa ninguém falar. Esta exposição não foi projetada para embasbacar, mas para criar interesse. Diversidade, o direito de escolher, o fato de termos mil construtores construindo mil casas diferentes é o mais importante. Nós não temos um modelo decidido pelo funcionário mais alto do governo. Essa é a diferença!

Khrushchev: Sobre política, nunca vamos concordar com você… [Mas] Por exemplo, Mikoyan gosta de sopa muito apimentada. Eu não. Mas isso não significa que não nos damos bem.

Nixon: Vocês podem aprender conosco e nós podemos aprender com vocês. Deve haver um livre intercâmbio! Deixem as pessoas escolherem o tipo de casa, o tipo de sopa, o tipo de ideias que elas querem!

PARTE 2: NO ESTÚDIO

Khrushchev: (…) Desejamos aos Estados Unidos o melhor para mostrar seus bens, produtos e habilidades… grandes habilidades, e teremos prazer em olhar e aprender. Não só vamos aprender, mas também podemos mostrar – e vamos mostrar – o que fazemos. Isso contribuirá para melhorar as relações entre nossos países – e entre todos os países – para garantir a paz mundial. (…) Há quanto tempo existe a América? São 300 anos? (…) A América existe há 150 anos e aqui está o seu nível. Nós existimos por quase 42 anos e em outros 7 estaremos no mesmo nível da América. Depois seguiremos em frente. Quando cruzarmos com eles pelo caminho, vamos cumprimentá-los amigavelmente, assim! [acena] Então, se vocês quiserem, podemos parar e convidá-los a seguir conosco! (…)

Nixon: (…) Os comentários de Khrushchev agora… eles estão na tradição que aprendemos a esperar dele falando de maneira intempestiva e franca sempre que tem uma chance. E fico feliz que ele tenha feito isso em nossa televisão colorida, em um momento como este. (…) Isso, Sr. Khrushchev é uma das criações mais avançadas em comunicação que temos! (…) Só posso dizer que, se esta competição que você assim descreveu tão eficazmente, na qual você planeja nos ultrapassar, especialmente na produção de bens de consumo, se essa competição é o melhor para o nosso povo e para pessoas em todos os lugares, deve haver um livre intercâmbio de idéias. Existem alguns casos em que você pode estar à frente de nós, por exemplo, no desenvolvimento de seus foguetes para a exploração do espaço sideral. Pode haver outras áreas, como na televisão em cores, onde estamos à sua frente. Para que nossos dois povos façam isso. . .

Khrushchev (interrompendo): O que você quer dizer com na frente?! Não! Nunca! Nós derrotamos você em foguetes e, nessa tecnologia [comunicações], estamos à sua frente também!

Nixon: Espere até ver a imagem.

Khrushchev: Bom! (…) Engenheiros soviéticos ficaram impressionados com o que viram. Também me uno à admiração de nossos engenheiros soviéticos. O fato de os americanos serem pessoas inteligentes é algo no que sempre acreditamos e soubemos, porque pessoas estúpidas não poderiam elevar a economia ao nível que alcançaram. Mas nós também não somos tolos (…). Em 42 anos, demos esse passo! Somos parceiros dignos! Então vamos competir! Vamos competir! O que pode produzir a maioria das mercadorias para as pessoas: esse sistema é melhor e vai vencer!

[Mais conversa sobre comunicação]

Nixon: Você não deve ter medo de idéias!

Khrushchev: Nós estamos dizendo a você: não tenha medo de ideias! Não temos nada a temer! Nós já superamos isso [nota: provável referência ao período Stalin] e agora não tememos ideias!

(…)

Khrushchev: você é um advogado do capitalismo, eu sou um advogado comunista! Então vamos competir!

Nixon: Tudo que pode dizer, pela forma como você fala e como domina a conversa, [é que] você daria um ótimo advogado! O que quero dizer é: aqui você vê o tipo de fita que vai transmitir esta conversa e isso mostra as possibilidades de aumentar a comunicação. E esse aumento na comunicação vai nos ensinar algumas coisas, e algumas coisas a você também. Porque, afinal, você não sabe de tudo!

Khrushchev: Se eu não sei tudo, você não sabe nada sobre comunismo, exceto pelo medo! (…) Me dê sua palavra, vice-presidente, me dê sua palavra que minha fala vai ser também gravada em inglês. Vai ser?

Nixon: Certamente será! E, na mesma moeda, tudo o que eu disser será gravado e traduzido e transmitido por toda União Soviética. É um bom negócio.

[Apertam as mãos]

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Quantos Stalin matou? https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/22/quanto-stalin-matou/ https://flashback.blogfolha.uol.com.br/2019/07/22/quanto-stalin-matou/#respond Mon, 22 Jul 2019 22:15:37 +0000 https://flashback.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/stalin-300x215.png http://flashback.blogfolha.uol.com.br/?p=62 Livros ainda serão escritos sobre como o número de pessoas mortas por um premiê soviético se tornou tema de disputa política no Brasil. Se você perguntar à internet brasileira, a resposta varia entre “pouco” e “100 milhões” ou mais.

Mas este é um caso peculiar em que, se a mesma pergunta for feita a historiadores profissionais, a resposta será quase tão discrepante quanto. Os neostalinistas (raros no Ocidente, em ascensão na Rússia) vão falar em menos de 100 mil, e relativizar mesmo esses números. Do outro lado, já se falou em até 110 milhões – pelo escritor e historiador dissidente Alexander Soljenítsin, em 1975, logo após ser expulso da União Soviética.

Um número assim não é levado mais a sério hoje em dia. Mas foi bastante circulado durante a Guerra Fria, quando acadêmicos ocidentais confiavam no testemunho e estatísticas produzidas por dissidentes. Por exemplo, o historiador americano Rudolph Rummel, em 1990, publicou sua estimativa de 51,5 milhões de mortes no período Stalin.

Após a queda do regime soviético, em 1991, os arquivos da inteligência soviética foram abertos e os historiadores puderam finalmente contar com números oficiais. E esses números acabaram parecendo modestos em comparação. São eles:

  1. Execuções políticas (1929-1953): 777.975
  2. Mortes nos gulags (campos de trabalhos forçados): entre 1,5 e 1,7 milhões
  3. Mortos no reassentamento dos kulaks (proprietários de terras): 389.521
  4. Mortos em outros reassentamentos: 309.521
  5. Mortos na Grande Fome da Ucrânia (Holodomor): mínimo 1,8 milhões, máximo 6,7 milhões (pesquisa pelo historiador australiano Stephen G. Wheatcroft; já se chegou a falar até em 20 milhões).

Total: 3,2 – 9,9 milhões.

Em sua forma bruta, esses números não são aceitos por ninguém. Entre outras coisas, está em disputa se a fome da Ucrânia foi mesmo uma política deliberada de extermínio por Stalin, com o governo do país adotando como posição oficial que foi um genocídio. Historiadores variam entre concordar ou considerar o desastre resultado da coletivização agrícola de Stalin e/ou também problemas climáticos. Neostalinistas não só descontam o Holodomor, como afirmam que as mortes nos Gulags foram naturais em sua maioria e que os números de execuções listados pela NKVD foram inflados. Mais comum é ir na direção oposta, argumentando que os números oficiais certamente ficam aquém da realidade, com execuções e mortes nos gulags subnotificadas.

Noves fora, no que pode ser considerado mainstream hoje, Stalin foi responsável pela morte de algo entre 9 milhões (Oleg Khlevniuk, da Universidade de Moscou, uma das maiores autoridades da Rússia atual) a 20 milhões ou mais (o historiador britânico Simon Sebag Montefiore, autor das recentes biografias de Stalin e Lenin). Na média, 15 milhões é um número frequentemente citado.

Sejam 3, 9, 15 ou 20 os milhões de Stalin são menos do que se ouve por ai, mas ainda muita, muita gente. E, já que ninguém vai resistir à tentação de comparar com Hitler, o número desse fica entre 10 milhões e 25 milhões. Mas isso não conta a Segunda Guerra na Europa, que ele causou, e custou mais uns 35 milhões, pelo menos.

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